Jornalismo 150 anos do 'Estadão': Tupã faz parte desta história

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(*) Marcus Guilherme Bianchi Yano

28/05/2025 - Este ano o jornal O Estado de São Paulo, conhecido como "Estadão" está comemorando seus 150 anos de existência. E motivos não faltam para comemorar tantos anos de trabalho levando informação e progresso para diversas regiões do Brasil. O jornal, que nasceu na então província de São Paulo em 1875, em um período conturbado pelos conflitos políticos entre o conservadorismo do período imperial e a latente busca por ideais republicanos, é hoje um dos principais veículos de comunicação do Brasil, visto que está sempre reportando a dinâmica da sociedade brasileira e do mundo por meio de seus seletos jornalistas, articulistas e editores. 
Diante deste aniversário tão significativo não só para a empresa jornalística, mas também para toda a nação brasileira, afinal são 150 anos noticiando fatos e acontecimentos do império à república, não poderia deixar de escrever e parabenizar o "Estadão". Com orgulho, também trazer a memória do meu avô, Mário Bianchi, que junto com seu irmão, Orestes Bianchi, foram os primeiros representantes do "Diário de São Paulo" e do "Estadão" em Tupã.
Cresci e aprendi a ler o "Estadão" com meu avô Mário. Ele lia praticamente todo o jornal e por isso sabia conversar sobre todos os assuntos. O jornal chegava em sua casa diariamente e quando eu lia, misturava todos os cadernos. Levava várias broncas dele por isso. Este gosto pela leitura do jornal, provavelmente também tenha me influenciado na escolha da faculdade de jornalismo, época em que tive a oportunidade de conhecer em 1998 as redações do jornal " Estadão" em São Paulo, que fica às margens do rio Tietê , onde participei da Semana "Estado" de Jornalismo e do Prêmio Estado de Jornalismo. Durante a Semana tivemos alguns dias para produzir uma reportagem que teve como tema "A influência das pesquisas na eleição brasileira". 
Na oportunidade, lembro da editora chefe do jornal que disse a todos os alunos das faculdades participantes da Semana que uma boa reportagem deve ter objetividade, precisão e credibilidade. A história de Tupã também foi contada nas páginas do "Estadão". Em seu acervo, que conta com edições desde 1875 até 2025, a palavra Tupã curiosamente aparece pela primeira vez no jornal como substantivo de lugar, na página da edição de 01 de abril de 1906, em coluna reservada para notícias de municípios do interior do Estado. No caso, o nome Tupã aparece no espaço de informações de "Lenções", que acredito ser de Lençóis Paulista com os seguintes dizeres "Foi nomeado o professor Antônio da Silveira Mello para reger a escola do districto de paz de Tupã, neste município". Ressalta-se  que a fundação do município de Tupã aconteceu em 1929 e pelas informações que temos hoje não existia em 1906 nenhuma escola aqui. 
Porém, novamente a palavra Tupã como nome de lugar também aparece na edição do "Estadão", de 06 de dezembro de 1912, na coluna do jornal reservada a informações do Senado federal com as seguintes informações: "em primeira discussão do projecto 4, de 1912, do Senado, desmembrando do município de Lençóis e anexando ao de Agudos, o distrito de paz de Tupã."  Nesta informação, fica mais nítido que referidas notícias destas edições do "Estadão" sobre Tupã podem sim se tratar do nosso município. 
Nesta oportunidade, cito o livro "Tupã, depoimentos de uma cidade", de autores tupãenses, em sua 1ª edição publicada em 2004, que descreve por meio de documentos inéditos como foi a fundação de Tupã. O livro revela em suas primeiras páginas que praticamente todas as terras ocupadas pela atual região da Alta Paulista, incluso Tupã,  pertenciam ao político e grande cafeicultor paulista Luiz de Toledo Piza e Almeida. Almeida, inclusive, foi colaborador do "Estadão".
Desde o nascimento de Tupã até hoje, o "Estadão" vem noticiando diversos fatos da vida econômica, política, social e cultural da sociedade tupãense. Desde notas como horários de voos, quando em Tupã existiam voos comerciais, publicidade, até grandes reportagens como na edição de 26 de agosto de 1949, quando o jornal preencheu duas páginas retratando para todo o Brasil o progresso do município. Na matéria, cheia de adjetivos positivos, o repórter cujo nome não encontrei, descreveu o progresso econômico do município. "Tupã, quase a boca das matas da Alta Paulista, num altiplano, pouco acidentado, passos do anonimato para uma curiosa notoriedade, na "zona nova", do Estado de São Paulo. Até 1938 praticamente desconhecida, essa cidade que tem hoje 22.000 habitantes e sede de um município com 67.671, quando há 11 anos era uma das tantas cidadezinhas do município de Glicério. Nessa região, há pouco tempo conhecida como continuação das zonas de Marília e Pompéia, Tupã é hoje um centro de crescimento agrícola e industrial vertiginosos."
Continuando com a matéria publicada na década de 1940, o repórter já alertava os tupãenses para problemas que ainda hoje, em pleno 2025, ainda afligem os munícipes. Assim percebeu.  "Entretanto, dois perigos ameaçam Tupã: a falta de energia elétrica que afeta diretamente as indústrias e, atualmente a ausência de chuvas que atormentam os lavradores". "Durante o dia, as lâmpadas não são acesas e, durante a noite a iluminação é pobre. Nem sequer os quatro hospitais da cidade escapam ao racionamento". Na matéria, o repórter aponta como solução a instalação de grandes usinas hidrelétricas que deveriam ser instaladas no rio Paraná, para atender a Alta Paulista. Lembrando que nesta época a Usina de Porto Primavera ainda não havia sido construída.  A mesma entrou em pleno funcionamento somente em 2003. E segundo comentários. gastou-se um volume gigante de recursos e não houve o resultado esperado.
Em 1968 o jornal realizou uma matéria sobre a 1ª Festa da Melancia de Tupã, contando com uma programação repleta de atrativos durante seus três dias de evento no Country Clube de Tupã. O repórter informou que Tupã estava entre os maiores produtores do País. Na programação, havia a escolha da rainha da festa e a visita do governador Abreu Sodré, com diversos secretários de Estado, entre eles, o de Agricultura e de Turismo. Em 1971, outra grande reportagem feita pelo "Estadão" abordou em suas páginas a forte presença de nomes indígenas em escolas, ruas, do Museu "Índia Vanuíre" e no nome dado ao município. A matéria teve como título "Tupã é homenagem aos índios", ilustrada com fotos do Solar Luiz de Souza Leão e placas de rua.
Já em 1983 o "Estadão" veio até Arco-Íris, na época distrito de Tupã, para mostrar a realidade dos povos indígenas da Aldeia Vanuíre. Com o título, "Em Tupã, os Índios protegidos", a reportagem contextualiza o modo de vida da comunidade, já aculturada pelos costumes dos brancos. Na oportunidade, o repórter do jornal centenário fez um registro histórico entrevistando a kaingang "Mulata". De acordo com a matéria, ela tinha 100 anos, e era uma das indígenas mais antigas do lugar e uma das últimas remanescentes das tribos kaingangs que ocupavam estas terras do Oeste paulista. Na entrevista, "Mulata" contou que era cunhada da índia Vanuíre, e contou ao repórter que ela tinha morrido de gripe espanhola, época em que muitas aldeias foram assoladas com a doença. 
Durante a entrevista, "Mulata" lembrou do seu passado. "Nasci ás margens do rio Feio e mamãe queria me matar quando nasci. Minha mãe, a onça pegou ela, rasgou seu peito e ela morreu. Meu filho morreu doente, seco, de tuberculose e ninguém cuidou dele".  Para realizar grandes reportagens, o jornal sempre enviava repórteres para Tupã ou vinha de Marília para cá. Mas durante um período o "Estadão" contou com a competência jornalística do saudoso dentista de Tupã, dr. Lincoln Ricci, que foi correspondente do "Estadão" e produziu inúmeras matérias sobre Tupã e região.
Entre elas, sobre a criação do Viveiro de Mudas, no Delta Ville, os 61 anos de fundação de Tupã, o acervo do Museu Índia Vanuíre onde destacou a exposição da cabeça de um índio Jívaro, do Equador, e a diversidade de peças da instituição, a perda de receita pela Prefeitura de Tupã com a retenção do FPM, a interdição do templo da Igreja Universal do Reino de Deus, na época que o templo da igreja em Osasco desabou matando e ferindo centenas de pessoas e a realização da 1ª Feira da Indústria e Utilidades do Lar de Tupã (Fiult) com 69 expositores.
Em 1991, um fato também chamou atenção da mídia brasileira em geral, e o "Estadão' também esteve aqui em Tupã para fazer uma reportagem sobre o aparecimento de um Lobisomem na cidade. A matéria rendeu mais de meia página do jornal, que na época era bem grande. Na reportagem, o repórter entrevistou os tupãenses Paulo Cardoso de Sá e João Teixeira Gomes, que afirmaram terem visto o Lobisomen. Na entrevista, eles descreveram a ou as criaturas com grandes orelhas cobertas por pelos negros e encaracolados, lento e desajeitado. A reportagem, na época, entrevistou o radialista Toninho de Fáveri, que de acordo com a reportagem do "Estadão", rendeu uma hora de audiência pela rádio local. 
Na consulta do acervo do "Estadão" também encontrei uma reportagem, no começo dos anos 2000, que enfocou o empenho que as autoridades tupãenses estavam tendo para inserir Tupã no rol de estâncias turísticas do Estado de São Paulo. Uma das fotos da matéria tinha a construção do Thermas de Tupã, que seria um dos principais atrativos da estância turística. 
Durante 150 anos o "Estadão" trouxe aos seus leitores reportagens históricas que marcaram épocas e gerações. Assim nasceu o "Estadão", com ideais republicanos, defendendo a livre inciativa e a liberdade de imprensa. Desde a criação do jornal,  enviou em 1887 nada menos que Euclides da Cunha, de Os Sertões, para cobrir a Guerra de Canudos, considerado um marco na história do jornalismo brasileiro. O "Estadão" também foi ativo na abolição da escravidão no Brasil. Também acompanhou por meio de telegramas da Comissão Rondon a Missão Rondon, entre os anos 1907 e 1915, liderado pelo militar e sertanista Cândido Rondon, que teve como objetivo integrar as regiões Centro-Oeste e Norte à região Sul do Brasil e defender as populações indígenas do Brasil.
Criou em 1914 O Boletim, sobre a 1ª Guerra Mundial, e em 1939, logo no início da 2ª Guerra Mundial, o "Estadinho", para informar os brasileiros sobre os conflitos. Exerceram papel ativo na Revolução Constitucionalista de 1932, por São Paulo, quando estiveram até no fronte da guerra travada entre paulistas e tropas militares de Getúlio Vargas. Na ditadura Vargas, entre os anos 1940 e 1945, o jornal foi tomado de seus proprietários sob a alegação de estarem conspirando contra o governo. Francisco Mesquita, que presidia o jornal, foi preso e levado ao Rio de Janeiro. 
Durante três anos, entre os anos 1972 e 1975, em meio ao  golpe militar que durou de 1964 a 1985, o jornal esteve com censores atuando em suas redações porque o jornal se recusou a praticar autocensura. Foi quando o jornal publicou nas páginas censuradas poemas de "Os Lusíadas ", do poeta português Luís de Camões, e receitas culinárias no Jornal da Tarde, também dos Mesquitas. Tais publicações repercutem até hoje nas salas de aula dos cursos de jornalismo de todo País. Também realizou matérias enfocando como eram obscuras as circunstâncias e a posição de autoridades sobre a morte do seu ex-repórter, Vladimir Herzog, um dos maiores personagens no combate à ditadura militar.
Não é de hoje que os idosos são assaltados pela própria administração pública federal como estamos vendo pelo INSS. Na década de 1980, o "Estadão" denunciou esquema de corrupção praticado pelo extinto INAMPS. Também denunciou o "Caso das Rachadinhas" em 2021. Mais recentemente, para celebrar os 500 anos de descobrimento do Brasil, durante 15 meses o "Estadão" enviou repórter que percorreu diversas regiões no Pais, revelando e retratando lugares singulares e desconhecidos da grande maioria dos brasileiros. Acompanhou, investigou e publicou todos os desdobramentos da operação Lava Jato que denunciou centenas de políticos e empresários durante 10 anos. 
A liberdade de imprensa sempre foi um dos pilares da democracia e pregado pelo "Estadão". Em uma de suas investidas a favor da democracia, também realizou reportagens em suas páginas sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que denunciou o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente da República, José Sarney, por contratação de parentes e afilhados políticos por meio de atos secretos no Senado em 2009. O "Estadão" ficou nove anos sob censura, impedido de publicar informações da operação. 
O caso foi parar no STF e em 2018 a Corte reiterou os princípios constitucionais que garantem a liberdade de imprensa no País, decidindo a favor do "Estadão" e derrubando a censura.  Na época, em 2009, o vereador tupãense Valdemar Manzano (PPS) ficou tão indignado com a censura imposta ao "Estadão" pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal que o motivou a elaborar um documento de repúdio à ação. Na oportunidade, o Legislativo tupãense aprovou Moção de Apoio ao jornal O Estado de São Paulo. A moção elaborada pelo saudoso dr. Manzano dizia. "A moção é um desagravo desta Casa de Leis diante da decisão que efetivou a proibição, por ser a mesma digna dos regimes de força, justamente contra um dos jornais mais respeitados e de maior credibilidade do Brasil".
Tida como um dos maiores orgulhos do povo paulista, a Universidade de São Paulo (USP) nasceu em 1934 pelas páginas do "Estadão' com o jornalista e empresário Júlio de Mesquita Filho, sendo que hoje é considerada como uma das mais importantes universidades do planeta Terra. Assim como a Unesp, que possui um câmpus em Tupã, também é considerada uma das mais importantes da América Latina e recebe o nome de Júlio de Mesquita Filho. 
Durante estes 150 anos de existência, o "Estadão" passou por diversas reformas gráficas, sempre motivado para oferecer aos seus leitores conteúdos jornalísticos fundamentados nos princípios éticos e políticos que o jornal conquistou ao longo de sua trajetória. E hoje conta com jornal impresso que chega em milhares de lares de todo o Brasil, com o "Estadão" Digital, com a Agência Estado, TV "Estadão" e com diversos produtos digitais. Hoje vivemos em um mundo de fácil acesso à informação e à desinformação com a onda de fake news, e com muitos conteúdos de baixo valor informativo e cultural. Cabe a cada um de nós buscar conhecimento e informação em veículos de comunicação comprometidos com o progresso do ser humano e o "Estadão" certamente é um deles. 

(*) Marcus Guilherme Bianchi Yano é jornalista

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