Por Samila Machado

Na Tupã dos anos 1980, ele já comandava com precisão os controles da Rádio Piratininga. Na foto acima, jovem e concentrado, Dernival Mânfio operava a sonoplastia do programa de maior audiência da época — a “Rotativa no Ar” com o jornalista Edson Joel. Sempre atento aos detalhes técnicos, marcou época nos bastidores da comunicação local. Com exclusividade, Dernival revelou à nossa coluna que em cinco décadas de trajetória já fez quase tudo em rádio: operador, motorista, discotecário, programador, recepcionista e até cobrador — menos locutor, função que recusou, por escolher permanecer nos bastidores, onde se sente mais à vontade, longe dos microfones e perto dos botões.
Mas a história teve início muito antes do estúdio. “A nossa família — meus pais e meus irmãos — chegou a Tupã em 1972; já são 53 anos que moro aqui”, conta. Nascido em Macatuba, perto de Jaú, passou a infância na lavoura de café até a mudança para o Paraná, em 1969. Três anos depois, aportou em Tupã graças a uma tia que já vivia na cidade. Entre 1972 e 1977, o trabalho na roça de amendoim — “bater” e “chacoalhar” no balaio começava às cinco da manhã, quando o ônibus dos boias-frias passava pela Rua Aimorés, em frente à Panificadora União, para buscá-los; o trabalho só terminava à noite, às vezes perto das 21h. “Era uma vida simples, mas cheia de esforço e união.”
A história ganha tom especial quando ele fala do irmão gêmeo, Derval. “Somos praticamente uma alma só. Tudo o que eu gosto, ele também gosta — especialmente rádio”. A ascendência italiana, herdada dos avôs que chegaram do Velho Mundo, alimentou a determinação dos irmãos. Em 1979, Dernival ingressou na Rádio Piratininga como cobrador de bicicleta e, curioso, aprendeu cada engrenagem da emissora. “No rádio só não faço locução comercial; o restante faço com muito amor.” Ao longo de duas décadas, formou novos operadores e ficou conhecido pelo perfeccionismo — “confiro e reconfiro tudo”, admite.

Com a mesma dedicação que demonstrou no estúdio, Dernival adentrou o universo digital. Em 2010, transferiu o know-how para as redes sociais. Facebook, Instagram, página oficial e site (dernivalmânfio-informa) reúnem hoje mais de   50 mil seguidores. Ali, ele publica notas de falecimento, pedidos de doação de sangue, notícias locais e até orações — uma síntese da utilidade pública. “Faço na internet o que se fazia no estúdio, mas com a linguagem própria do digital.” Além de parcerias publicitárias, divulga quermesses e campanhas beneficentes, mantendo-se próximo da comunidade.
Entre os momentos inesquecíveis, destaca o abraço no rei Roberto Carlos, após o show de 1992 no Ginásio de Esportes. “Como fã de carteirinha, foi um sonho realizado.” Já o período mais duro veio com a pandemia de Covid-19. De 2020 a 2021, Dernival tornou-se referência ao noticiar, com rigor e empatia, óbitos e internações: “Cheguei a publicar seis falecimentos em um dia. Foi triste, mas senti que prestava um serviço essencial”. O pico de audiência coincidiu com a dor coletiva, e suas postagens serviram de fonte para rádios e jornais regionais.
Hoje, ao celebrar meio século de estrada, colhe os frutos de uma trajetória guiada por paixão e serviço: “Trabalhei com música, vivi o rádio intensamente e ajudei muita gente. Continuo aberto a colaborar enquanto Deus permitir”. O filho Leandro, inspirado pelo pai, formou-se em publicidade. Já Dernival segue firme como ponte entre notícia e população: “O rádio é minha vida desde criança, e sou imensamente grato por cada conquista. Enquanto houver histórias para contar, estarei aqui — informando com carinho, serenidade e respeito”. 
50 anos de dedicação à comunicação, Dernival é mais do que um nome — é um elo entre a notícia e a cidade. Tupã reconhece, respeita e agradece.