Pedrinho Maradona - o boleiro de terno e gravata

Esportes


29/07/2025 - Aqui na cidade, todo mundo conhece o doutor Pedro. Advogado respeitado, desses que fala bonito até para pedir um café. Quando em ação, gravata sempre no lugar, pasta de couro na mão, sapato engraxado. Ganhou o respeito da gente porque é sério no que faz. Um verdadeiro "homem da lei".
Mas o que muita gente não sabe é que, fora do fórum e das petições, o doutor é boleiro. E boleiro raiz! Daqueles que jogavam com calção de brim, sem meia, e que achavam que um pedaço de "Emplasto Sabiá" resolvia qualquer contusão. E mais: é meu amigo. Amigo de longa data - da vida, da bola e da resenha - desde os tempos do lendário Veteranos Pernas de Pau.
Durante a semana, o papo é outro. Ele fala de jurisprudência, audiência, prazos e recursos. O corre dele é mental, não físico. Nos tempos em que jogávamos no mesmo clube - e até hoje - eu sempre dou uma passadinha no escritório dele. Às vezes para conversar sobre futebol, outras só para tomar um cafezinho e colocar as fofocas em dia. Muitas vezes quando chego por lá, e ele está falando sobre "agravo de instrumento", "decisão interlocutória", ou de outros assuntos do mundo jurídico, pelo respeito que tenho por ele, ouço atentamente. Balançando a cabeça com cara de quem entendeu tudo. Mas, sinceramente, sempre achei que "jurisprudência" era nome de zagueira de seleção feminina.
Agora, quando chegava o sábado… ah, meu amigo, o cenário mudava!
Bastava a gente entrar em campo - e se fosse em lados opostos, então… Ele de azul, eu de vermelho… aí o bicho pegava.
Era nesse momento que o doutor deixava o terno e a gravata de lado e virava o Pedrinho Maradona: baixinho, habilidoso, marrento e impossível de desarmar. Jogava com a bola grudada no pé, parecia que tinha ímã. Fazia firula, girava em cima da bola, protegia com o corpo e ainda provocava com aquele sorrisinho de canto de boca.
Toda vez que eu enfrentava ele, tinha que descer para ajudar nosso lateral - que já andava meio tonto de tanto rodar atrás do ponta-esquerda Pedrinho. E quando eu ia ajudar, já chegava meio sem paciência… então, a botinada comia solta. Mas sempre com cuidado, para não machucar nosso craque. Só que o danado era tão liso que nem para acertar a canela era fácil.
Teve um dia, num dos famosos torneios dos Pernas de Pau, que ele estava impossível. Fui marcar o homem, no calor da disputa por troféu. Acho que, dessa vez, acertei em cheio. Ele sentiu. Sentiu tanto que largou o juridiquês e, no melhor estilo boleiro bravo, soltou essa:
- "Hoje eu vou entrar com recurso… mas no seu tornozelo!"
Achei que era só provocação do nobre colega. Nunca vi ele bater em ninguém. Doce ilusão! Ele não foi no tornozelo… veio com a asa aberta direto no meu peito. Só de lembrar, já dói de novo.
Quando não chegava sonolento no treino - o que às vezes acontecia - o doutor jogava muita bola. Dava trabalho. Dava raiva. E dava orgulho também. Porque boleiro de verdade reconhece outro boleiro.
Mas, quando o jogo terminava, a guerra também acabava. A gente se abraçava, ria das presepadas, sentava junto para aquela resenha sagrada. Ele voltava a ser o doutor, eu voltava a ser o contador de causos. A bola descansava, mas a amizade seguia firme, correndo solta como sempre.
Porque, no fundo - bem lá no fundinho - a gente sabe, a bola até pode nos dividir por uns minutos…
Mas a resenha… ah, essa nos une para a vida toda.

BLOG FUTEBOL RAIZ 100
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de “rachão”, “arranca toco”, “quebra dedo”, e entre tantos outros apelidos criativos."
Texto: Paulo Cesar - PC

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