Sapolândia Futebol Clube - mais que um time, uma paixão

Esportes


17/09/2025 - Por volta de 1985, depois de passar por todas as categorias de base da cidade - que, na época, eram três principais: dentinho, dente de leite e dentão - fui convidado pelo professor Paulo Bento da Silva, o "Bentão", para integrar o elenco do tradicional Sapolândia Futebol Clube, que naquele ano disputaria a categoria de juniores.
Fizemos uma boa campanha e terminamos como vice-campeões. De quebra, ainda recebi novo convite do "Bentão" para jogar o amador, também naquele ano.
Naquele tempo, o "Sapo" era visto como um time mediano, pois entrava nos campeonatos mais para participar do que para brigar pelo título, que quase sempre ficava entre os históricos G.S. Ferroviários e o imbatível Hirano. O objetivo não era ser campeão, mas também não fazer feio, e manter viva a tradição do clube.
O Sapolândia não se destacava pelas conquistas em campo, mas sim pelo seu nome curioso e pela figura marcante de seu diretor, técnico, tesoureiro e o que mais fosse preciso: o carismático "Bentão". Ele era uma verdadeira lenda do futebol amador tupãense, comandando o time como um técnico vitalício e, podemos dizer, "incaível" - se é que essa palavra existisse.
A "sede" do clube ficava na baixada da Avenida Tamoios, um pouco abaixo da esquina com a Rua Tupiniquins, na região conhecida como Vila Sapo. Na verdade, não era exatamente uma sede, mas um bar simples e acolhedor, de propriedade do senhor Zé Afonso, apaixonado pelo clube e grande apoiador do "Bentão". Ali era o ponto de encontro da turma, onde discutia-se o futuro do time e, claro, tomava-se uma cerveja gelada.
Jogar pelo "Sapo" era uma experiência única, principalmente pelas resenhas de vestiário. Enquanto "Bentão" tentava manter o grupo concentrado, a conversa dos jogadores se espalhava para todo lado. Confesso que nunca fui dos mais disciplinados, pois a noite falava mais alto para mim, o que me rendia alguns atritos com o "professô".
O resultado era quase sempre o mesmo para esse atrito, ou seja, o banco de reservas, meu lugar cativo. Ainda assim, ele nunca deixava de me entregar a camisa 7, mesmo como reserva - uma espécie de recado para mim.
"Bentão" tinha jeito de paizão, mas não admitia ser contrariado. Costumava dizer que eu era seu titular, mas, se chegasse atrasado e perdesse sua preleção - que começava com gritos, passava por palavrões e terminava com uma reza -, já sabia que iria para o banco. Eu não me importava muito, só queria jogar, mesmo que fosse por alguns minutos. Mas, quando não entrava, a irritação vinha. De nada adiantava, no entanto, pois diante do tamanho do "Bentão", qualquer bravinho pensava duas vezes antes de abrir a boca.
Sem um orçamento sólido, o "Sapo" não tinha condições de contratar jogadores de renome. O elenco era formado por garotos que já haviam estourado a idade do júnior, como eu, além de bons boleiros da cidade e alguns veteranos quase no fim da carreira, mas que ainda davam conta dentro de campo. Enquanto outros clubes traziam reforços de fora - os famosos "estrangeiros", contratados a peso de ouro -, o "Sapo" se virava como podia para se manter competitivo e não decepcionar.
Atuei pelo Sapolândia em vários campeonatos e torneios até que, em um jogo do amador que praticamente não valia mais nada, pois os dois times já estavam eliminados, levei uma violenta cotovelada de um lateral "pé de rato", que acabou fraturando o meu nariz.
Fiquei muito tempo afastado e, quando voltei, já não tinha o mesmo ânimo para os jogos valendo três pontos. Passei a atuar apenas em treinos de fim de semana e nos aspirantes - o famoso "cascudão" - pelos bairros da região, mas continuei acompanhando de perto a trajetória do meu querido "Sapo".
Com o tempo, o ciclo se encerrou e o icônico Sapolândia Futebol Clube deixou de existir. Um final triste para uma história bonita, que marcou a minha vida e a de muita gente.
Ah, vale lembrar: na Vila Sapo também existia o tradicional bloco carnavalesco Unidos da Vila Sapo, comandado pelo saudoso Juninho, onde tive o prazer de tocar na bateria nota 10 em vários carnavais.
**Escalação do "Sapão" na imagem que ilustra a crônica, na versão juniores, tendo o "Alonsão" como palco:**
Em pé: professor "Bentão", Batata, Grilo, Betão, Ticão, Tita, Sílvião, Marcelo, Silvio, ?, ?.
Agachados: Betão "Pompéia", Serginho Lobão, Paulinho-PC, Wilson "Irisom", Tonho, Doca, Pradinho, Arnaldo "Cossaco" e Zé Afonso.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de 'pelada', 'rachão', 'arranca toco', 'quebra dedo', e entre tantos outros apelidos criativos."
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