(*) Adriano de Oliveira

19/12/2025 - As férias escolares costumam ser aguardadas com entusiasmo pelas crianças e adolescentes, mas para muitos pais elas chegam acompanhadas de uma inquietação legítima: “meu filho tem TDAH e está de férias, o que eu faço agora?”. 
A quebra da rotina, que para alguns representa descanso, para quem convive com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade pode significar desorganização, aumento da impulsividade, conflitos familiares e sensação de esgotamento emocional. Reconhecer isso sem culpa já é o primeiro passo de uma boa gestão desse período.
O TDAH não tira férias. O cérebro continua funcionando com as mesmas características: busca por estímulo, dificuldade de autorregulação, necessidade de previsibilidade e desafios no controle do tempo. 
Por isso, o maior erro nas férias não é “relaxar demais”, mas sim eliminar completamente qualquer estrutura. Férias não precisam ser sinônimo de rigidez, mas precisam de algum nível de organização clara, simples e funcional.
Uma estratégia-chave é manter uma rotina-base, mais flexível, porém previsível. Horários aproximados para acordar, se alimentar, realizar atividades, brincar e dormir ajudam o cérebro da criança ou do adolescente a se orientar.
Não se trata de encher a agenda, mas de criar âncoras ao longo do dia. Quando o filho sabe o que vem antes e depois, a ansiedade diminui e o comportamento tende a melhorar. 
Outro ponto crítico é o uso excessivo de telas e durante as férias; é comum que celulares, videogames e tablets ocupem um espaço desproporcional. Para crianças e adolescentes com TDAH, isso pode intensificar irritabilidade, desatenção e dificuldade de transição entre atividades. 
Estabelecer combinados claros, com tempo definido e alternativas fora da tela, é uma decisão estratégica de cuidado, não de controle. Atividades físicas, jogos ao ar livre, tarefas práticas e experiências sensoriais são grandes aliadas nesse período.
As férias também são uma excelente oportunidade para desenvolver habilidades socioemocionais de forma mais leve. Cozinhar juntos, organizar um passeio, cuidar de algo em casa, montar um projeto simples ou até planejar uma pequena viagem ajudam a trabalhar responsabilidade, planejamento, frustração e cooperação, afinal,  foco não é desempenho, mas vínculo e aprendizado prático.

Para muitos pais, surge a dúvida sobre manter ou não o acompanhamento terapêutico durante as férias. Na maioria dos casos, a continuidade da psicoterapia é altamente recomendada. Esse período oferece material riquíssimo para trabalhar autorregulação, limites, emoções e comportamentos em um contexto real, fora das pressões escolares. Além disso, manter o acompanhamento evita rupturas no processo e dá suporte também aos pais, que muitas vezes estão no limite emocional.
É fundamental lembrar que férias não precisam ser perfeitas e haverá dias caóticos, de conflitos e com muito cansaço. Isso não significa fracasso parental, mas realidade. Pais de crianças e adolescentes com TDAH precisam praticar a autocompaixão e ajustar expectativas e nunca devem comparar sua rotina com a de outras famílias; só aumenta a frustração e não agrega valor.
O que realmente agrega valor é olhar para as férias como um período de recalibragem emocional e relacional que faz toda a diferença. 
Com olhares acolhedores, comunicação clara, limites consistentes e apoio profissional quando necessário, as férias podem deixar de ser um problema a ser administrado e se transformar em uma oportunidade de fortalecimento do vínculo, desenvolvimento emocional e crescimento para toda a família.
Não é sobre controlar o TDAH, mas sobre aprender a conviver com ele de forma mais saudável, estratégica e humana.
Desejo à todos um Feliz Natal !
Com o Renascer de Cristo no Coração de Todos

(*) Adriano de Oliveira,
psicólogo clínico e neuropsicólogo -
CRP: 06/150383
Instagram: @psicologoadrianodeoliveira