Dom Quixote Futebol Clube

Esportes


01/10/2025 - O bairro Dom Quixote fica na estrada de terra que liga Tupã ao bairro Extremadura, um pouco à frente da famosa Represa do Sete, sendo, portanto, vizinhos.
Joguei muitas vezes contra a sempre competitiva equipe de lá e, como todo time da zona rural na época, era sempre difícil de ser batida em seus domínios.
A torcida também fazia a diferença: exigente, apaixonada e vibrante, empurrava o time como se fosse uma final todo domingo. Muitos amigos meus defendiam a camisa do Dom Quixote, e isso tornava nossas disputas ainda mais ferrenhas, quase pessoais, mas sempre dentro daquele espírito bom do futebol de várzea. Vamos ser sinceros: às vezes nem tanto, pois ninguém queria saber de perder.
Além dos amistosos, foram inúmeros torneios disputados, que quase sempre terminavam do mesmo jeito, ou seja, em acirradas disputas de pênaltis que se arrastavam até o cair da noite, com goleiros virando heróis, batedores tremendo nas pernas e a torcida prendendo a respiração a cada chute.
Quando chegávamos ao bairro, por não haver um local adequado para estacionar, muitas vezes o caminhão encostava no barranco da estrada, que ficava bem ao lado do campo, e ali mesmo, na carroceria, improvisávamos o nosso vestiário. 
Já saíamos prontos dali, pulando direto para dentro do gramado, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Cena que só quem viveu sabe a emoção que carregava.
Nunca tive a chance de jogar pelo time dos caras. A única oportunidade que apareceu acabou não acontecendo, e ficou só no quase. Ainda assim, guardo respeito e boas lembranças daquele time e da rivalidade que marcou tantas tardes de domingo.
O bairro em si era pitoresco. No centro estava a sua imponente igreja, que dominava a paisagem e servia como ponto de encontro da comunidade. Se não me falha a memória, havia também um salão de festas, meio acanhado para os padrões rurais da época, sem falar em seu campo, que era um verdadeiro tapete verde.
O bairro Dom Quixote tinha uma beleza peculiar, sempre com aquele ar de mistério. Explico: durante a semana, quando passava por ali, o contraste era interessante, pois, aos domingos, na hora dos jogos, era um barulhão danado, porém, fora desse horário, reinava um silêncio quase sepulcral.
Só se ouvia o vento serpenteando entre os galhos das árvores e, dependendo de sua intensidade, levantando a poeira vermelha do chão, misturada ao canto tranquilo dos passarinhos. Confesso que chegava até a dar medo.
Hoje, o tempo levou quase tudo embora. O time há muito não existe mais, o campo foi arado e tomado por plantações agrícolas e até a igreja, outrora orgulho do bairro, já não recebe fiéis, deteriorando-se pela ação impiedosa do tempo.
Fica a saudade do tempo em que a bola rolava solta, os torneios se decidiam nos pênaltis intermináveis, o caminhão virava vestiário de luxo, a arquibancada improvisada fervia de emoção e a igreja marcava o coração do Dom Quixote, ali pertinho da Represa do Sete.
Um bairro, um time e um campo que, mesmo desaparecendo aos poucos na terra vermelha, continuam vivos na memória e na alma de quem viveu aquelas tardes inesquecíveis.

BLOG FUTEBOL RAIZ 100
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de 'pelada', 'rachão', 'arranca toco', 'quebra dedo', e entre tantos outros apelidos criativos."
Texto: Paulo Cesar - PC

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