A matança nos morros, a quem interessa

Geral


(*) Jesus Guimarães

04/11/2025 - É sabido que o mal se combate definitivamente desde que seja pela raiz. Não se acaba com pernilongos com aerossol, mas eliminando as águas paradas onde eles se procriam. De igual forma, não adianta matar e matar bandidos se o meio social de onde provêm continua igual. 
Nos morros cariocas falta a presença do Estado, com escolas públicas de qualidade, creches, cursos profissionalizantes, atendimento à saúde, opções de esporte e lazer, mais segurança pública adequada. Os entregadores do tráfico de drogas lá sediados são, regra geral, moleques pobres, sem perspectivas, criados por mães abandonadas, em condições miseráveis, alvos fáceis do crime organizado. Traficando vão ganhar uma grana, talvez possam ostentar uma arma, um status a ser considerado por quem nada tem de seu. Tornam-se bandidos quase como se cumprissem uma regra, passam a valentões e maus, capazes de bater ou matar. Todavia, são uma "mão de obra" barata, de substituição automática. Se a polícia elimina trinta deles, não importa, no dia seguinte serão trocados por outros de idêntico perfil. 
Fácil, portanto, para o governador do Rio, mandar 2.500 policiais subir o morro, matar mais de 120 pessoas, entre elas, bandidos, inocentes, mais quatro policiais. Várias dezenas de favelados foram rendidos e executados nas matas vizinhas, inclusive crentes de igreja evangélica ali existente, conforme denúncias do pastor indignado. 
Essa chacina engana facilmente aqueles que acham que basta matar todos os marginais para extinguir o crime, deixando de lado os tubarões do tráfico. Além disso, corre a versão de que o objetivo maior foi abrir caminho para as milícias (bolsonaristas) em área de domínio do Comando Vermelho.  
O povo equivocado, sobretudo a classe média conservadora, alheio aos fatos como eles são, aplaude medidas do tipo e não sentirá dificuldades para votar em Cláudio Castro senador em 2026. Pesquisas apontam apoio majoritário dos cariocas que, vivendo atropelados, querem providências de resultados imediatos, como se existissem. 
Nas últimas horas o governador e os envolvidos na trama tentaram transferir a responsabilidade ao governo federal, além de insistir em classificar os traficantes como "narcoterroristas", denominação falsa, mas estratégica, inventada por Trump para justificar invasões militares a países latino-americanos. A propósito, Cláudio Castro cuidou de enviar vibrante relato do episódio aos EUA (sic).
Talvez sonhe com caças americanos despejando bombas nas favelas da linda cidade do Rio de Janeiro. Aliás, nos exatos termos propostos, dias atrás, pelo senador Flávio Bolsonaro. 

(*) Jesus Guimarães é professor, bacharel  em Direito, funcionário aposentado  do BB e 
ex-prefeito de Tupã E-mail: zuguim@uol.com.br

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